Estudos Bíblicos

DIVISÃO E CLASSIFICAÇÃO DOS SALMOS. Estudo com Pr. David Mattos. Parte 3

DIVISÃO E CLASSIFICAÇÃO


O livro de Salmos está dividido em cinco grupos, também chamado de cinco livros:


Livro 1 – 1-41.
Livro 2 – 42-72.
Livro 3 – 73-89.
Livro 4 – 90-106.
Livro 5 – 107-150.


Esta demarcação pode ser compreendida da seguinte maneira:
“…A base disto se acha no próprio Saltério, que coroa cada um destes grupos com uma doxologia. A Septuaginta (tendo como abreviatura LXX), traduzida no século II ou III a.C., é testemunha da antiguidade destas marcas, e ainda antes disto o cronista cita aquela que termina o Livro IV (1Cr 16:35-36) .
Além destas divisões há também um processo de desenvolvimento histórico aludido na combinação das diferentes coleções dos salmos. São coleções atribuídas a Davi (Salmos 3-41; 51-71); os filhos de Corá (Salmos 42-49; 84-85; 87-88) e Asafe (Salmos 50; 73-83). Acredita-se que os Cânticos de Romagem (Salmos 120-134) eram uma coleção de cânticos de peregrinação. Temos ainda os salmos 146-150 que empregam a marca Aleluia .
Existem muitas outras formas de classificar os Salmos, mas como bem observa Hilma Barreto Hollanda em seu artigo O Livro de Salmos e a Literatura:
Não podemos classificar os Salmos de maneira a reduzi-los, sacrificando as características individuais de cada um ao ponto de acreditarmos que dessa maneira estará́ tudo explicado. O gênero deve ser classificado de forma a permitir o início de uma análise do individual, comparando e diferenciando cada poema
Além das divisões, o livro de Salmos contém uma variedade de estilos literários. O pioneiro na abordagem dos Salmos buscando uma nova avaliação de procedência e função foi Hermann Gunkel (1862-1932). Sobre este método de abordagem, podemos citar:
… o método de Gunkel era buscar, em primeiro lugar, o contexto vivencial dos salmos, pesquisando canções e poesias a serem achadas noutras partes da Bíblia e em culturas contemporâneas; e, em segundo lugar, classificar a matéria mais pela sua forma do que pelo seu conteúdo. Este tipo de abordagem passou a se chamar crítica da forma. A base desta abordagem, está em três premissas principais que podem ser explicadas da seguinte maneira :Sendo que a literatura Bíblica religiosa tende a resistir mudanças e mantém os padrões estabelecidos. Então, sua literatura pode ser categorizada de acordo com semelhanças nas formas. Uma vez que a semelhança de forma deve significar semelhança de uso; então, formas semelhantes deveriam ser empregadas no contexto da vida religiosa. Sendo que há semelhanças na forma de culto e liturgia entre Israel e seus vizinhos, então os textos religiosos destas culturas vizinhas, podem ajudar na compreensão do emprego e significado das formas literárias de Israel.

Hermann Gunkel trouxe uma importante colaboração para o entendimento dos Salmos através da crítica da forma. A partir de sua crítica o Salmos passaram a ser vistos mais em seu contexto de culto do que em sua crítica histórica. Como é possível perceber na seguinte citação:
Com Gunkel, a ênfase no estudo de Salmos passou de uma tentativa de determinar o ambiente histórico da composição de um salmo para um esforço de determinar seu uso no culto público ou na devoção particular. A concentração na autoria deu lugar à investigação do ambiente religioso em que o Salmo pode ter surgido e de sua transmissão oral no culto vivo .
É certo que havia um uso comunal, bem como individual e privado dos Salmos. Com esta ênfase Hermann Gunkel desenvolveu cinco formas literárias distintas. Essas formas seriam: (1) Hinos para culto de adoração pública; (2) lamentações e intercessões coletivas; (3) salmos reais, com a função de confirmar a autoridade do rei; (4) salmos de ação de graças; (5) lamentações, intercessões e confissões individuais, além de pedidos pelas necessidades pessoais .
O Salmos também podem ser classificados por temas. Neste tipo de classificação, não se analisa a ordem numérica do Salmo, ou cronológica. Diferente da classificação literária a divisão se dá pelo tema principal abordado em cada saltério.
As classificações temáticas dos Salmos são muitas e variadas. Diversos autores adotam classificações diferentes. Por exemplo Champlin (2000, p. 2055) adota uma classificação em que apresenta dezessete categorias. Já Ellisen (2007, p 207-208) classifica em cinco categorias diferentes. Santos (2014, p. 54-60) classifica os salmos em 6 diferentes tipos, são eles:

1. Salmos didáticos – É o tipo de Salmo que tem a finalidade de levar instrução. Eles são constituídos por reflexões históricas, contrastes entre o justo e o ímpio e exortações (Elissen, 2007, p. 208). Por Exemplo: Salmos 1.

2. Gratidão e louvor – O único Salmo que tem o título de ação de graças é o Salmo 100, mas vários outros foram escritos para agradecer e louvar a Deus. Exemplo: Salmos 150.

3. Históricos – Segundo Santos (2014, p. 57) este tipo de Salmo é caracterizado por apresentar fatos e acontecimentos que marcaram a história do povo de Israel . Exemplo: Salmos 137.

4. Imprecatórios – São Salmos de queixa contra o adversário e pedidos de proteção a Deus, também pedidos de justiça e vingança. Alguns Salmos são chocantemente julgadores dos iníquos, invocando a maldição e a vingança de Deus sobre eles . Exemplo: Salmos 35.

5. Salmos da lei. Também chamados de Salmos de Exaltação a lei de Deus. Um tipo de Salmo onde o escritor não tem seu tema principal centrado, em um único preceito, mas são alvos de sua inspiração diversos decretos e normas que vêm da parte do Senhor para o seu povo . Exemplo: Salmos 118.

6. Salmos Messiânicos. São salmos que apontam para o Messias, sua pessoa e vinda. Nestes Salmos podemos ver os prenúncios de Cristo. Por exemplo: Salmos 118.22
Na classificação temática o que se busca é entender seu conteúdo, desta forma é possível que um Salmo preencha requisitos para ser classificado em mais de uma categoria. Contudo, o que parece ser importante é compreender que há mais de uma maneira de se classificar e até de se entender a poesia que nos é proposta no livro de Salmos.

CONCLUSÃO
Este artigo dedicou-se a apresentar uma visão introdutória geral sobre o Livro de Salmos. Sendo que os Salmos percorrem, através de diversos autores, praticamente todos os períodos da história antiga de Israel, então o estudo de tal obra se torna necessário para se entender a cultura e o pensamento de cada tempo.
Para tanto buscou-se compreender primeiramente o título, uma vez que temos um nome diferente no original do Antigo Testamento de nossa Bíblia em português. A seguir foi estudado os diferentes autores e percebemos que o livro foi escrito durante quase todo período da história antiga de Israel.
Verificou-se também a riqueza da linguagem poética através do uso de símbolos e figura de linguagem. Ainda percebemos que o paralelismo, principal característica da poesia bíblica, permitiu que as figuras de linguagem da poesia hebraica conseguissem sobreviver a tradução para diversas línguas e também atravessar séculos.
Finalmente observamos as diferentes maneiras de se dividir e classificar os Salmos, desde a antiga divisão em cinco livros da Septuaginta, até mesmo maneiras modernas que os classificam em categorias.
De maneira nenhuma tem-se a pretensão de ser este o ponto final de um estudo sobre o livro de Salmos. Este trabalho se propõe a ser apenas uma introdução geral, para aqueles que vão prosseguir na busca de conhecer melhor este livro de cânticos antigos, que até o dia de hoje continua a emocionar através de sua preciosa poesia.

Pr. David Mattos

Presidente da AD VIAMÃO e Coordenador do Conselho de Educação e Cultura Religiosa da CIEPADERGS

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